1 de novembro de 2010

27 de outubro de 2010

Garota Planta



Por medo de sonhar em demasia, ela, a garota, optou por apenas viver nos ventos sublimes e azuis dos encantamentos oníricos. Fez o seu medo, o seu porvir ainda mais belo.

Renunciou à falsa vida e planta tornou-se. Passou a ter aorta de galhinhos esverdeados que conduziam uma seiva tão alva quanto as penas daquelas gaivotas do Sul. Dos galhinhos saem também incontáveis folhinhas que na primavera floram e eclodem frutinhas, as quais, minúsculos passarinhos devoram com todo o seu amor de fantasia.

E ela, a garota, também passou a se alimentar de si mesma, e assim, notou que a felicidade serena passou a ser a sua única realidade. E então amou. Amou com verdade a sua existência e também a de todos os seres que a faziam intensamente viva.

23 de setembro de 2010

14 de setembro de 2010

little_secrets

Caso tenha alguma pergunta a fazer, apóie sua cabeça serenamente sob o travesseiro e aguarde a viagem noturna chegar... o dia seguinte transcorrerá fluido e aparentemente corriqueiro, mas lá pelas sete ou oito, talvez dez, você notará que a resposta veio quase que imperceptível, e que agora, já faz parte de uma certeza!

Confie, se perguntar com sinceridade e amor, elas lhe contarão os segredos ao pé do ouvido.





14 de agosto de 2010

'outros tempos'


idade contemporânea
meu medo é índio não saber mais tratar do veneno da aranha
viver no genérico
no bolsa família
usar short da adidas
que vida!
banidos do paraíso
perde-se o choro, o rito
a magia, o mito
o que sobra? 
quando sua essência é devastada pelas mãos de carapuceiros?
agora, globalização, caba não mundão!
indío quer dinheiro.

 
Texto: Natame Diniz
Foto: Mariana Conti
*início do projeto 'outros tempos'




13 de agosto de 2010

Estrofes passarinheiras para um ninho alado

o meu ninho se foi
e olha que o canário sou eu
ele voou para o céu do infinito
e eu por aqui fiquei

mas veja só que ironia
eu que sou desses seres de voar
decidi por aqui ficar e outros caminhos desbravar

enquanto essa inversão acontece
o meu peito não esquece

nossa! eu tive um ninho alado.
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estudo número quatro sobre a passarinhagem

11 de agosto de 2010

Estrofes passarinheiras para um ninho que se foi

e eu que sou canário
agora não tenho onde morar
vou vagando por aí afora
até o mundo todo eu voar

o meu ninho se foi com as chuvas
e para esse inverno fiquei à deriva
mas como ainda sei planar
saio por aí afora a en-cantar

quando o frio findar
talvez eu volte pro meu aconchego,
isso se eu o encontrar,
aí sim serei feliz demais
para o amor novamente eu desbravar
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estudo número três sobre a passarinhagem

10 de agosto de 2010

Protopoema de um ninho feito com galhinhos dos jardins do cerrado

o meu ninho é quente e cheira
amor

o conforto dele é a paz
mundo

ele é quente nas invernadas
calor

porém seja leve nas floradas
pluma

lá encontra-se toda a calmaria do mundo
harmonia

é o meu não lugar.



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estudo número dois sobre a passarinhagem

9 de agosto de 2010

Introduzindo seres estranhos à passarinhagem

- você foi só?

- não, não. claro que não! Manoel me acompanhou em todos os momentos.

- Que Manoel?

- de Barros. grande companheiro de viagem! conversamos sobre muitas coisas importantes, sobre as borboletas, os rios, o azul, o branco, as formigas, os Pássaros. só não falamos das pessoas, mas isso não tem importância mesmo.

- e quem é esse tal de "de Barros"?

- ah, é um homem que aprendeu tanto, mas tanto, com os pássaros, que acabou sendo adotado pelo João e herdou seu sobrenome:  "de Barro".


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estudo número um sobre a passarinhagem

26 de julho de 2010

Um post da Chapada

Amigos,


Ainda estou pela Chapada dos Veadeiros no Encontro de Culturas Tradicionais, o lugar está lindo, cheio de pessoas especiais e um clima ótimo. Sinto falta de uma porção de coisas, que por hora, me deixam um vácuo no peito, mas me contento em viver o momento e perder-me na natureza incrível desse lugar.


Em breve volto com fotos, estórias e alguns machucados...

13 de julho de 2010

Headline




Que absurdo! Até parece que o governo francês está preocupado com os direitos das mulheres, pois se estivesse de fato, tomaria medidas efetivas que venham a combater problemas de ordem muito mais urgente do que um tecido sobre o corpo. Combateria o abuso sexual, moral, aprovaria leis que forneçam condições de vida realmente adaptadas às necessidades da mulher. Isso sem falar dos temas clássicos: fome, mortandade infantil, saúde básica, desemprego, depressão, entre tantos outros assuntos que insistem em habitar a realidade atual. 

Os representantes do governo francês simplesmente quiseram interferir em um tema ao qual eles não conhecem absolutamente nada. Mudaram tradições seculares sem sequer pensar na raiz do problema. Se ao menos eles tivessem abordado a proibição de homens obrigarem mulheres a utilizarem o véu, mas não, foram na essência do desrespeito. Infringiram a barreira invisível dos Deuses, dos céus; querem impor costumes de uma sociedade moderna e decadente, que é a França, sob uma minoria politicamente fraca.

Isso é um verdadeiro estupro ao simples direito do cidadão de ir e vir, o direito de fazer o que quer contanto que não interfira negativamente na vida de ninguém. Uma ridícula estratégia do governo em tentar conter um problema que eles não têm o menor controle: o terrorismo. A violência. O caos da mente contemporânea.

Mais uma prova da falência das Instituições Sociais. A demonstração da anemia e da evolução limitada dos atuais Governadores do Mundo.

Uma decadência. O fim.

Talvez a próxima lei seja contra a fome dos patos. Viva o Foie de Gras!

5 de julho de 2010

Adentrávamos a estrutura pesada de uma marquise com proporções gigantescas. Caminhávamos em direção Oeste, paralelamente ao mar. O oceano esteve a nossa frente a espumar a pura grandiosidade e beleza. Percorríamos o caminho vagarosamente afim de encontrar a outra extremidade da construção. De maneira repentina reparamos que uma onda havia se destacado da linha imaginária a qual o mar pára, e ela molhara os nossos pés. Por um momento pensei que aquela situação era desagradável, pois não queria molha os meus pés, mas continuei a caminhada, até me dar conta do real significado daquele momento.
De maneira desencadeadora, as pessoas que por ali andavam, inclusive eu, puderam notar que uma onda gigantesca iniciava sua aproximação da costa, ela vinha lenta e suntuosa, ganhando metros a cada centímetro percorrido, e paralelamente ao observar da chegada da onda, pensávamos que apesar de grande, ela não nos alcançaria... Lenta, muito lenta ela iniciou a invasão na marquise, um verdadeiro furor. As pessoas gritavam e temiam o porvir, mas apesar do medo, não era possível dimensionar a distância a que ela estava de nós e de sua verdadeira altura. Eis que ela chegou e transbordou aquela enorme caixa de concreto, levou grande parte das pessoas que ali estavam.
Vácuo.
Voltei à consciência, estava seca, sem uma memória momentânea e ligeiramente serena, como quem acorda de um sono.  Parada no mesmo local de minha última lembrança, sabia o que havia acontecido, mas eu espiritualmente permanecia intacta.
Eu era todo espírito. Não havia matéria que me formasse.
Continuei a minha caminhada, a extensa estrutura da marquise já havia ficado para um passado recente, estava a caminhar a beira do mar. A ressaca havia levado mais do que pessoas, o mar esteve tétrico. Um novo avanço gigantesco iniciou sua vinda mais uma vez, as pessoas que me circundavam não faziam parte da minha realidade, a mim nada significavam, era apenas eu. A onda veio mais uma vez gigantesca, no momento, um sopro divino sobre meus ouvidos disse-me para contrair-me o máximo possível, fechar-me em meu próprio casulo, assim como os moluscos em sua concha, e assim fiz.
O mar passou a ser como o céu dos peixes, havia ali uma tonalidade espiritual e, então, nadaram acima de mim raias e tubarões. Temi por um instante as raias e suas caudas perigosas, mas logo senti novamente a sensação de proteção. Ao meu lado outras poucas pessoas também encontravam-se em posição de cócoras, olhando aquele espetáculo inacreditável aos olhos humanos. Aquele momento era como se tivéssemos nos transformados em peixes no fundo do mar, animais legitimamente marítimos vislumbrados por sua condição. Ainda mantínhamos nossa forma humana.
A onda recuou e a ressaca do mar foi uma das maiores que já se viu nesta Terra.
Retomamos a consciência, continuamos a caminhada...

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às vezes ficamos tristes quando sabemos de uma realidade que nos era explícita, mas que nossos olhos cegos não enxergavam. 
foi-se o tempo. ele foi.
talvez eu deva iniciar logo a leitura de 'em busca do tempo perdido'.

1 de julho de 2010

Justifica. Fica?



a poesia da música presente no peito
o caótico som da cobra que envolve e estrangula a presa
a irresistível e branda onda venenosa que nos leva
e conduz, e conduz, e seduz


o amor escrito pela ausência
a necessidade de flutuar
o desejo da perenidade
e o medo do sopro perfeito não chegar


a definição justifica
"isolo-me, pois amo a todos aqueles apaixonantes"
o suicídio, contrariar a afirmação
o hermetismo, conservação



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Não era nada disso, perdi o original.
Droga.
Merda.

5 de junho de 2010

aquelas senhoras

ando a sonhar com as senhoras gordas, 
e elas a contar-me sobre o sentido dessa minha vida.


deus queira que elas estejam certas
e o meu rumo seja essa essência.


Pois não vejo a hora,
de findar com esse peso,
de sentir esse calor,
e voar para a fonte da vida.


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Ando a chorar só de pensar que me livrarei dessa condição estúpida. Que os deuses entendam meu clamor e me atendam!
O choque será recompensador. A mim. E a ti.

30 de maio de 2010

pôr do sol em casa visto pela janela

o céu hoje está de pintura.
deus com as mãos leves e delicadas.


coloriu no céu os nossos sentimentos de amor. a combinação perfeita.
a felicidade é a simplicidade de enxergar a cor.




-degradé
-opostos complementares
-serenidade

28 de maio de 2010

garoto âmbar

ela não era lá grande coisa, nem ele. mas tinham o seu valor...

a rapariga não tinha grandes percepções ou visões do mundo, mas de certa forma, costumava vez e outra perceber algumas nuanças não tão evidentes para a maioria das outras pessoas.
por esse motivo mesmo, por se achar comum demais e por temer permanecer na ignorância dos preguiçosos, ela metia-se a ler coisas que muitas vezes não compreendia.

algumas vezes era preciso que ela relesse o texto vezes a perder das contas para que pudesse compreender alguma coisa e prosseguisse com uma mensagem, mesmo que sem profundidade, mas de alguma forma contextualizadora.

nesse vai e vem das leituras, em meio aos morosos textos que ela tanto admirava, algumas palavras ficavam para trás. palavras essas com significados perdidos no limbo dos poetas e pensadores, que ali refutavam e escreviam suas teorias auto-biográficas da forma mais densa e inacessível que podiam. assim pensava ela: "fazem isso só para tornar quase impossível a compreensão", e completava "por isso que são chamados de gênios! quem há de questioná-los se não os entendem!?!".

assim permaneceu durante longos períodos de leitura. lia, relia, parava, pensava, escrevia, lia mais uma vez, rasurava as escrituras, garranchava mais alguns comentários e por final chegava a alguma conclusão débil e não muito elaborada. assim era a sua frustrada rotina pseudo literária, auto-estimulada por ímpetos invisíveis que se manifestavam em pensamentos delicados e, aparentemente, sem nenhum raciocínio coerente.

mas a rapariga não era só fortuita em suas leituras, mas também em seu cotidiano intencionalmente formulado. ela colocava-se em situações em que dependia da reação dos outros só para ver como agia. nada mais do que um provisionamento do improviso. assim como quando ela atirava-se no meio de conversas desconhecidas, de pessoas jamais vistas e sem nenhuma afinidade, aparentemente, e testava a si mesmo. "como reagirei? o que vou falar? o que vai acontecer?", assim ela se questionava nessas propositais situações inusitadas.

certa vez decidiu-se jogar-se em mais um desses testes de sociabilidade e percepção, isso tudo de maneira fortuita e quase leviana. foi então que conheceu um rapaz, intitulado por ela inconscientemente como "rutilo", que mais tarde evoluiu em seu pensamento para "âmbar". ela não sabia, mas havia associado o pequeno rapaz à pedra rutilada devido a sua grande e enroscada barba, que nas pontas apresentava um aspecto dourado, quase alaranjado, e na auréola de imagem, uma cor de vibração suave e uniforme, algo como um caramelo, translúcido, que viria a concluir posteriormente como âmbar.

mas em um primeiro momento, ao menos no início, ela não tentou fazer associações de cores com a personalidade. conceitos matizados sobre as matizes que aspirara nos tantos livros sobre cores que havia lido há algum tempo. muito menos ela utilizou sua sabedoria de fortuita observadora , apenas lançou-se de cabeça na viagem sem preocupar-se com o que aconteceria ou com o que iria vivenciar com aquilo tudo. ela apenas pensava em ver sua reação de fronte a situações cotidianas, fazendo de forma tão profunda quanto impensada em esquecer-se de tudo e bloquear suas vivências, só para poder experimentar mais uma vez a sensação do não saber o que fazer e falar e estar.

apesar de seu aparente esquecimento, ela podia lembrar-se da cor do rapaz assim como visualizada ao vivo, e então, aos poucos ela pode compreendê-lo melhor, o porque ele realmente emanava âmbar e não ocre ou escarlate. ele era da mais pura e verdadeira linha de pessoas que estão ligadas aos estudos das profundezas humanas e dos questionamentos herméticos, assim como os poetas e filósofos que submergiam nos seus limbos internos. começou a pensar na grande maioria de pessoas que ela conhecera com características parecidas ao garoto-âmbar, e verificou que todas as pessoas emanavam tons semelhantes ao dele de suas auras.

nesse momento a moça já não sentia-se mais tão igual a todo mundo, mas sabia que também não era grande coisa. Foi então que ela começou a perceber que, ao ler os seus livros em busca de um conhecimento dito elaboradíssimo, ela já não precisava mais repetir por diversas vezes a ida e vinda do correr pelas mesmas palavras a fim de decifrá-las. havia a partir de não sei quando, uma voz em sua mente que aos poucos lhe indicavam os caminhos das corredeiras dos pensamentos disfarçados em rebuscadas palavras.

a cada vez que a voz lhe vinha para explicar um ou outro parágrafo, ela enxergava também algum objeto de cor amarelada, mas entretida em seus decifrares, não notava sua presença. até que um dia em seus passeios ocasionais de leitura, ao compreender o raciocínio, a priori dificílimo, pela orientação da voz, ela elevou sua cabeça para poder relaxar da leitura e deleitar-se com aquela sensação, foi quando avistou uma criança que sentara-se seu lado com uma capa de chuva amarela. antes mesmo de conseguir exprimir para si mesma uma  conclusão qualquer do que havia compreendido, a criança lhe dirigiu a palavra e lhe questionou: "você gosta de vir aqui em dias de chuva?", e em mais um de seus lançamentos de si mesma, temendo limitar a imaginação, ela respondeu: "aqui a onde?", e a criança que parecia ainda não ter sexo respondeu: "no limbo das árvores". achando demasiada coincidência, calou-se perante a esplêndida visão da criança e concluiu seu último pensamento...

"quando não compreendo ele vêm a mente com sua voz de educador e doutrina o meu pensar. faz com que as idéias aparentemente desconexas entrelacem-se como as ramas das árvores, que a cada junção irrigam e alimentam as teias do aflorar. assim, sua luz dourada ilumina de forma quase ofuscante as caraminholas da minha caixota e fazem com que a escuridão do limbo, onde residem o tal dos poetas e filósofos, se alumine e floresça a glória".


 
.preso a um fio condutor verdadeiro, uma percepção cotidiana e um pouco de ficção.

17 de maio de 2010

Cães Merecem Orações!



Que o caminho seja brando a teus pés,
O vento sopre leve em teus ombros.
Que o sol brilhe cálido sobre tua face,
As chuvas caiam serenas em teus campos. 
E até que eu de novo te veja, 
Que os Senhores te guardem nas palmas de Suas mãos.

16 de maio de 2010

amor infantil

você não sabe o quanto me fere esperar por tuas respostas
o quanto me angustia confrontar minuto a minuto a tua presença ausente
e sentir o que não poderia ser sentido
possuir o que não é possuível


confesso-lhe
procuro em ti o que não acho em mim
mas que em um gesto fraco e terráqueo tenho ilusões em aspirar
pois sinto-me um corpo perdido neste mundo
a viver e a vagar, tu me inspiras!


minha vida
eu lhe darei o fardo
estás condenado a efemeridade das minhas disposições
e, enquanto durares a tua presença ausente em meu vácuo,
serás constante em meu peito
mas o dia que eu preencher essa ausência de mim mesma em minha própria vida
tua vida terás se acabado para mim.


por fim
as tuas palavras não serão mais minhas, assim como o meu corpo não será teu, e nunca foi
não deixarei de ser fiel aos meus sentidos, mas também não sei se serei a mim mesma
não sei quem sou e muito menos quem és, mas enquanto estiveres por perto, 
vou te amar ingenuamente, com todo o meu amor infantil e profundo.


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Fico impressionada quando pego antigos escritos meus e percebo que todo aquele sentimento, a vontade, a intensidade, quando expressada pelas palavras, tomam dimensões gigantescas, proporções demasiadamente desbravadoras. Pois quando transcrevo as sensações, naquele momento mágico em que o lápis risca o papel intocado, aquele texto passa a já não ser mais parte de mim, passa a ser universal. A composição passa a ser de autoria coletiva, pois aquele fragmento do eu representa a minha contribuição humana.

8 de maio de 2010

algo sobre a natureza das coisas

de todas as formas de beleza eu prefiro aquelas mais ocultas, que nem sempre se mostram. aquelas que não impressionam ou cegam, mas que se revelam em pequenos gestos e olhares singelos.


das companhias, prefiro aquelas que se confundem à solidão. não por serem ausentes, mas justamente por serem tão intensas e herméticas como a presença intrínseca e, tantas vezes imperceptível, do si para o eu.


e as palavras? não ligarei se forem inexistentes, pois a ausência também fala. talvez prefira que o corpo todo fale, e use  a sua intensa presença de matéria para expressar-se, ao invés de simplificar a complexa gama de sentidos das sensações em meras palavras soltas ao ar.


e essa descrição? é para dizer que talvez a matéria exacerbada seja sufocante em demasia. tolhedora.


...que talvez incorporar a fluidez indefinida da natureza seja a intensidade integral e verdadeira.

10 de abril de 2010

ferida exposta

aqueles foram tempos precários. talvez os anos mais ásperos que a humanidade vivenciaria.

a precariedade não residia apenas na miséria do corpo, ia além-matéria, pois o que perecia ao sol e às moscas, era o descaso dos deuses cansados.

O ser.

renunciara o paraíso pela sua demasiada utopia, pela sua banalidade exacerbada e permitira-se viver conforme os rumos trôpegos do vento, pois nem o corpo, nem a alma desesperançada lhe importavam mais.

assumira a sua não-vida e vivia a morte em vida, a alegria em vácuo, o corpo em decomposição. esse era o seu legado, o seu bem maior, renunciar a tudo o que lhe foi dado por falta do que se desejara com intensidade e verdade.

para ele, a vida então, já não era mais a vida que se conhece, nem a morte que se imagina. permitiu que em sua biografia ela torna-se um grito sem som, um corpo sujo ao chão e a visão de um verme lhe comendo a ferida.



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à aquela criança que chorou e não foi ouvida, ao tolo amor sucumbido, às materialidades, ao mundo que hoje definha sobe o descaso do poder efêmero e banal humano.

2 de abril de 2010

a poesia do homem negro

enquanto honrosas pessoas espantavam-se com o aspecto repugnante do indigente, senhouras digníssimas de título de santidade, rezavam em seus terços, pedindo um fim trágico àquela figura pútrida e indigna de coabitar aquele espaço.

o ar, embebido por sentimento de piedade católica, não permitiu que fosse transparecida a revolta arrotada pelos presságios daquele ser primitivo. dentro de sua protozoária evolução não havia espaço para as vácuas palavras proferidas pelo Senhor.

foi então, que o trôpego homem revoltou-se pelas cinco gerações que contribuíram para a calmaria daquele momento, e convulsionou o último grito antes da loucura:
"a gente quer a sua poesia pra falar que foi o homem branco que fez".

19 de março de 2010

fui pra bahia!

eu já vivo tão cansado
de viver aqui na terra
minha mãe, eu vou pra lua
eu mais a minha mulher
vamos fazer um ranchinho
tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua
e seja o que deus quiser

1 de março de 2010

memórias de uma viagem, inscritos de um avião.


a ausência do mundo teve início quando eu percebi que já não havia mais necessidade da falsa presença, conscientizei-me que o corpo é apenas a extensão da alma, e ela, unicamente ela, é que deve ser ouvida. e então, eu a ouvi.


é uma fase leve, caracterizada pela ausência de gravidade, é a fase das vontades espontâneas.


fui parar nas alturas. cheguei ao topo do mundo e avistei a imensidão da vida, senti o que não pode ser visto, visitei em sanidade o que a alma visita quando liberta pelo sono do corpo. amei com intensidade o amar.


não revoltei-me, não tive pensamentos ruins, não lembrei-me da vida medíocre a qual nos submetemos em troco de nada, simplesmente estive nas nuvens e deixei-me dissolver com elas.


esta não foi uma viagem para reflexão.. não! definitivamente não. muito menos de lazer. foi um momento que eu concedi ao meu corpo preso, que pudesse sentir as levezas da alma. ver belas paisagens e fazer parte delas, ser elas. dissolver-se na imensidão bela e bela também ser. sublimação, a maior busca.


aspirar pelos poros a perfeição da natureza não corrompida, não imunizada pelo caos do automatismo, da praticidade, da vida nesse formato caótico.


a grande leveza e energia intensa da atividade incessante e constantemente renovada da cachoeira, a força interna que nos causa a composição perfeita e universal do arco-iris, a chuva genuína que cai na terra despretensiosamente, mas que abençoa e limpa a todos que estão abaixo dela.


o medo do desconhecido e perigoso, tão necessário ao nosso auto-conhecimento. o silêncio que não emite som, nem sequer pensamento. o vácuo necessário para que se possa sentir e não imaginar. ser a si mesmo. ser o todo, e o todo, você.
 
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