5 de julho de 2010

Adentrávamos a estrutura pesada de uma marquise com proporções gigantescas. Caminhávamos em direção Oeste, paralelamente ao mar. O oceano esteve a nossa frente a espumar a pura grandiosidade e beleza. Percorríamos o caminho vagarosamente afim de encontrar a outra extremidade da construção. De maneira repentina reparamos que uma onda havia se destacado da linha imaginária a qual o mar pára, e ela molhara os nossos pés. Por um momento pensei que aquela situação era desagradável, pois não queria molha os meus pés, mas continuei a caminhada, até me dar conta do real significado daquele momento.
De maneira desencadeadora, as pessoas que por ali andavam, inclusive eu, puderam notar que uma onda gigantesca iniciava sua aproximação da costa, ela vinha lenta e suntuosa, ganhando metros a cada centímetro percorrido, e paralelamente ao observar da chegada da onda, pensávamos que apesar de grande, ela não nos alcançaria... Lenta, muito lenta ela iniciou a invasão na marquise, um verdadeiro furor. As pessoas gritavam e temiam o porvir, mas apesar do medo, não era possível dimensionar a distância a que ela estava de nós e de sua verdadeira altura. Eis que ela chegou e transbordou aquela enorme caixa de concreto, levou grande parte das pessoas que ali estavam.
Vácuo.
Voltei à consciência, estava seca, sem uma memória momentânea e ligeiramente serena, como quem acorda de um sono.  Parada no mesmo local de minha última lembrança, sabia o que havia acontecido, mas eu espiritualmente permanecia intacta.
Eu era todo espírito. Não havia matéria que me formasse.
Continuei a minha caminhada, a extensa estrutura da marquise já havia ficado para um passado recente, estava a caminhar a beira do mar. A ressaca havia levado mais do que pessoas, o mar esteve tétrico. Um novo avanço gigantesco iniciou sua vinda mais uma vez, as pessoas que me circundavam não faziam parte da minha realidade, a mim nada significavam, era apenas eu. A onda veio mais uma vez gigantesca, no momento, um sopro divino sobre meus ouvidos disse-me para contrair-me o máximo possível, fechar-me em meu próprio casulo, assim como os moluscos em sua concha, e assim fiz.
O mar passou a ser como o céu dos peixes, havia ali uma tonalidade espiritual e, então, nadaram acima de mim raias e tubarões. Temi por um instante as raias e suas caudas perigosas, mas logo senti novamente a sensação de proteção. Ao meu lado outras poucas pessoas também encontravam-se em posição de cócoras, olhando aquele espetáculo inacreditável aos olhos humanos. Aquele momento era como se tivéssemos nos transformados em peixes no fundo do mar, animais legitimamente marítimos vislumbrados por sua condição. Ainda mantínhamos nossa forma humana.
A onda recuou e a ressaca do mar foi uma das maiores que já se viu nesta Terra.
Retomamos a consciência, continuamos a caminhada...

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às vezes ficamos tristes quando sabemos de uma realidade que nos era explícita, mas que nossos olhos cegos não enxergavam. 
foi-se o tempo. ele foi.
talvez eu deva iniciar logo a leitura de 'em busca do tempo perdido'.
 
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