26 de janeiro de 2009

Desenhos em perspectiva, sem perspectiva.

Hoje o enrugado senhor não veio ao terminal. Desenhar corpos nômades e desabitados de si mesmo é o que preenche a sua percepção de tempo.

Sempre curvado em sua prancheta com uma caneta pronta para capturar a próxima cena que lhe chamará a atenção. Como base sempre algumas linhas, um pouco tortuosas, dispostas em perspectiva; perspectiva essa inútil já que naquele lugar os objetivos parecem ser tão vagos.

Ele captura as pessoas que não param, que estão sempre a procurar. Alguns deles buscam um caminho, um rumo, quem sabe até o rumo de uma vida sem saídas. Aquela parece olhar ao redor em busca de um amor; tão tola, devia é olhar pra si mesma.

Hoje, o senhor japonês que ocupa o lugar do desenhista era o único que não parecia querer achar nada. Ele passava as suas manhãs ali, junto ao desenhista, esperando apenas o incandescente voar do tempo... Como um suicida. Mas não esses suicidas comuns, um suicida paciente. (mas que ironia).

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Que engraçado, certa vez uma pessoa muito próxima a mim - não próxima em quantidade de horas, mas em estágio de evolução - disse que eu cantava todas as músicas em um ritmo próprio, não importa o que for, funk ou ópera (adoro cantar óperas), todas tem o mesmo ritmo. Eu sempre transponho elas para a minha realidade.
Talvez seja por isso que as pessoas passam pelo mesmo lugar que eu e não veem o que eu vejo. Tudo faz parte da minha realidade.

21 de janeiro de 2009

Fu, fur, furinho - côncavo humano



um, dois, três, quatro cinco, seis, sete, oito, nove, dez.
dez dedos.
eu tenho cinco dedos no pé esquerdo, mais cinco no direito.

as unhas são azuis neste momento, sendo que o terceiro dedo do pé esquerdo tem uma pequena falha no esmalte; isso deve ter acontecido quando eu coloquei a meia...

Desfaço-me deste pensamento e subo o olhar...

o céu está suavemente azulado, e o sol já vai se por.
se não fosse pela poluição e por tantos prédios essa deveria ser uma cena bonita.

olha, um beija-flor!
acho que ele já se acostumou com a minha presença. sequer liga se eu estou lhe olhando ou se apenas faço parte da paisagem.

é, talvez essa existência seja insignificante....

Pego a maçã que estava ao meu lado, apoiada na mesa amarela, a qual eu estava sentada.

como eu gosto de maçã!
é uma fruta tão elaborada; tem a quantidade certa de açúcar para que não seja nem tão doce, nem tão desprezível.
de onde será que sai tanta água da maçã?

Fiquei alguns minutos a observar. . .

A fruta permite ser saboreada de forma completa; leva uma vida toda para um único desfrute. Isso não pode ser desperdiçado.

Dentre o sulco carnudo do fruto, e as deliciosas sensações oferecidas, pode-se perceber uma infinita porção de minúsculos furinhos. É lá! É lá que a fruta agrupa milhões de moléculas de água, nos furinhos!

Doces pingos frutíferos

A sensação do permitir-se, de experimentar os sentidos é tão libertina, basta um estopim.
O perceber desdobra-se em uma miraculosa gama de sensações fantasiosas, o pensamento liberta-se das amarras do psicológico e entra na quimera dos delírios. Ah! Nessa hora, o você, o ser que vê o mundo de frente, já não importa, é secundário. O que se deseja apenas é mergulhar mais e mais.

Perdido por perdido já somos, pois o decorrer da história não nos foi contado. Que ao menos este momento seja de descobertas e, conclusivamente de libertação.



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Costumo contar os dedos dos pés. Curiosamente ontem vi uma mulher sem o dedão do pé direito, ou esquerdo. Não sei. Um dos dois pés, porque eu sempre confundo direito com esquerdo e esquerdo com direito.
Hoje eu entendi que poucos podem entender o que eu falo. (rs)

17 de janeiro de 2009

uma casa de vidro


a cada dia que passa eu me isolo mais
e o que é pior,
não tenho mais medo disso

crio uma redoma translúcida
na minha realidade inóspita
onde o humano, não há de habitar

cheguei a um ponto sem volta
onde o hermetismo de minhas idéias
já é demasiadamente fútil perante as futilidades ainda maiores

sinto-me agora pouco melhor
pois sei que eles não me terão
encontro-me em um ponto, onde as volúpias da irrealidade
tornam-se mais concretas que os devaneios dessa sociedade

assim eu me refugio
me guardo
até parei de falar
de ouvir o ensurdecedor

agora sou apenas eu

resta um
partido em dois
faces similares de um mesmo Composto
exposto, apenas exposto





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Não ouvirei beatles só para te agradar ou para ter assunto
Gosto do silêncio
Aliás, prefiro!
Aí sim, pode-se dizer muito mais com os olhos
Ah os olhos, mas isso é outra história...

Conto inventado, que há de ser declamado, para que os olhos, estes globos incandescentes, possam pousar serenamente

8 de janeiro de 2009

Rubis e esmeraldas

Hoje eu me sentei ao lado de uma senhora no metrô, tão suja e tão digna quanto pudesse. Os seus adjetivos a afastavam das outras pessoas.

Vi uma pedra preciosa de esmeralda incrustada na antiga cobertura da face.

Os rubis das unhas já não lhe valiam um tostão sequer, mas as mãos cansadas, ainda se esforçavam para carregar um velho saco de coisas vendáveis.

As ranhuras da face ainda não me habitam, e talvez nem cheguem a estampar este rosto dito harmonioso; mas o coração, o sinto às vezes, tão antigo e estafado quanto a expressão daqueles que deste mundo já viram a pior das pobrezas se repetir todos os dias.






Eu não sou daqui, juro que não.

5 de janeiro de 2009

Ah, a evolução...

Banksy - o cara!


A pintura rupestre é considerada pelo homem moderno uma forma de expressão artística. Segundo a ciência atual, pode-se detectar que esses desenhos foram feitos a milhões de anos atrás, por homens primitivos, em cavernas e grutas em diversos países do mundo.

A caracterização dessas pinturas se dá principalmente pela limitada quantidade de cores utilizadas, já que estas eram feitas apenas com excrementos, sangue, pedra moída ou sementes colorantes; e também pela presença de animais selvagens e demonstração de rituais. Considerando que os homens desta época não tinham um sistema de escrita desenvolvido, estes, utilizavam os desenhos como uma forma de comunicação.

Acredita-se que essas pinturas e gravuras encontradas em rochas e cavernas, foram feitas com o intuito de expressar artisticamente os fatos e os medos que o homem vivia naquela época. (cerca de 2 milhões de anos atrás, baby)

Assim como as pinturas rupestres caracterizam a forma de expressão humana no período dito primitivo, a pixação e o graffiti são a marca inexorável de uma sociedade que se diz altamente evoluída, mas que a cada dia torna-se mais rudimentar.

O homem moderno, já há muito tempo deixou de ser primitivo, mas ainda permite que os instintos, brutos, prevaleçam perante a própria humanidade. Mais do que nunca, o homem passa a ser egoísta, a voltar-se apenas para a sua própria sobrevivência, cada um em sua luxuosa caverna (só que agora, de preferência, longe das “pinturas”). rs . A diferença? A consciência do ato.

Se o pixo deve ser mudado, isso não pode ocorrer por meio de repreensão, mas sim por uma re-evolução na sociedade a qual vivemos. Se a sociedade encontra-se em caos é porque os papéis dos personagens foram invertidos: antes tínhamos um governo conservador e uma sociedade libertina, em busca de seus ideais; hoje, os ditos cidadãos, pois se é que há cidadania, não passam de pilhas de carne humana que se acumulam em meio ao lixo tecnológico, muito conservadores, e acomodados em seu transitório bem-estar.


A contestação por parte de uma minoria é impreterível, quando se leva em conta o caos vivido por uma maioria invisível.


Feliz Ano Novo, com direito ao kit paz e muito cinismo.
 
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